Uma em cada seis crianças com até seis anos de idade já sofreu algum tipo de racismo no Brasil, segundo pesquisa nacional encomendada pela Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal ao Datafolha. Os responsáveis por crianças nessa faixa etária relataram que filhos ou cuidandos já sofreram discriminação racial ou tratamento diferenciado por causa da cor da pele, do tipo de cabelo ou de outras características físicas.
O levantamento, realizado em abril de 2025, entrevistou 2.206 pessoas, sendo 822 responsáveis por crianças de até seis anos. Os dados mostram que o racismo é percebido com maior frequência por responsáveis pretos ou pardos (19%) do que por aqueles que se declaram brancos (10%). Entre as crianças, os casos são mais comuns na faixa etária de 4 a 6 anos (21%) do que entre os menores de 3 anos (10%).
Os ambientes em que os episódios de racismo mais ocorrem também foram identificados. Creches e pré-escolas concentram a maior parte dos relatos (54%), seguidas de espaços públicos como ruas e praças (42%), vizinhanças ou comunidades (20%) e locais privados, como shoppings, comércios e clubes (14%).
Especialistas alertam para os impactos do racismo precoce na infância, incluindo fragilização da autoestima, estresse tóxico, prejuízos ao desenvolvimento socioemocional e às relações de aprendizagem, uma vez que a primeira infância é período crucial para a formação de competências cognitivas e emocionais.
A pesquisa reforça a necessidade de que creches e pré-escolas funcionem não apenas como espaços de cuidado, mas também como ambientes de proteção e promoção da igualdade, com formação de professores, protocolos de denúncia e materiais educativos antirracistas. Embora a Lei nº 10.639/2003 determine a inclusão da história e cultura afro-brasileira nos currículos escolares, a implementação ainda é desigual.
Reconhecer que o racismo afeta crianças tão jovens é considerado um passo fundamental para combater a discriminação desde a primeira infância. Iniciativas nesse sentido contribuem para quebrar ciclos de desigualdade e permitem que todas as crianças se desenvolvam plenamente, independentemente de sua raça ou cor.
